domingo, 23 de outubro de 2011

A ESCOLA QUE O BRASIL PRECISA AINDA É DE PAPEL I


A ESCOLA

Escola é...
o lugar onde se faz amigos,
não se trata só de prédios, salas, quadros,
programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente,
gente que trabalha, que estuda,
que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente,
O coordenador é gente, o professor é gente,
o aluno é gente,
cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
na medida em cada um
se compromete como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
que não tem amizade a ninguém,
nada de ser como um tijolo que forma a parede,
indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade,
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se “amarrar nela” !
Ora, é lógico...
numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz.
                                      Paulo Freire




Enquanto educador que ama o ato de educar no sentido mais amplo da palavra, me sinto na obrigação de honrar esse divisor de águas de todo o processo educacional do Brasil que, em simples palavras, resumiu o verdadeiro sentido de uma escola que tem todas as características de um corpo vivo. Uma escola que tem gente que pensa e sonha, que tem gente sensível que chora não apenas as suas dores, mas também as dores alheias e que muitas vezes, adoece diante de um quadro de impotência perante ao descaso quase generalizado das autoridades.      Uma escola que luta para não ser um organismo estático, mumificado pela indiferença e rudeza de um sistema frio, de sangue gelado ante a degradação desenfreada do que deveria ser para um país sério o maior e mais importante patrimônio: uma educação plena de qualidade, plena de honestidade, plena de boas intenções, plena de projetos coerentes que contrastem com a triste realidade de um sistema educacional sucateado e, sobretudo, plena de profissionais qualificados e saudáveis e, sobretudo, plena de amor! Enfim, uma escola que tem gente que tem fome. Mas fome de quê?                                                                                                               A escritora Lia Luft, em um artigo intitulado: “Você tem fome de quê?”, desembaraça com muita propriedade um novelo social onde várias necessidades humanas estão desorganizadas, tais como: “fome de casa, saúde e educação que, segundo a escritora, são as essenciais, mas ela segue citando outras fomes consideradas importantes para a realização plena do cidadão, mas a escritora reafirma que o conhecimento é a primeira condição para a mudança de vida do cidadão.  
“Esse país não é sério...” Essa foi uma expressão usada pelo então presidente da França Charles de Gaulle, pronunciada em outubro de 1964, ao ir embora de sua primeira visita ao nosso país. E apesar de tantos anos já terem se passado, essas palavras continuam ecoando no interior das pessoas de bem que, atônitas percebem que em relação à educação, que o Brasil continua não sendo um país sério.
 As crianças e os adolescentes são as maiores vítimas das contradições de um sistema educacional no mínimo equivocado, injusto, arcaico e desnorteado, tendo em vista que o mal resultado de uma alfabetização deficitária que é produzida em larga escala, lamentavelmente acompanhará essas vítimas em toda a sua trajetória enquanto cidadãos como uma cicatriz imposta, como se marca um gado.            Entenda-se por alfabetização deficitária o ato de não habilitar o educando a interpretar um texto lido. Os alunos não sabem ler, não compreendem o que lêem e não entendem o enunciado e, por isso, não conseguem resolver problemas, o que é muito comum em nosso paupérrimo processo de alfabetização e, esses são os analfabetos funcionais formados para não atuarem de modo produtivo no meio social em que estão inseridos. (pesquisar site: “pérolas do vestibular”),
Evidentemente, ler não é apenas decodificar. O processo de leitura envolve sujeitos e sentidos em constante luta na busca de significados.
Segundo avaliação da representante no Brasil do Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef), Marie-Pierre Pirier, durante o lançamento do relatório Situação da Infância e da Adolescência Brasileira em 2009 “O Direito de Aprender”, para reverter as desigualdades de acesso e os problemas na qualidade da educação que ainda persistem, o país precisa investir pelo menos 8% do Produto Interno Bruto (atualmente investe apenas 5,2% do PIB em educação). Na avaliação da representante, o Brasil precisa melhorar a articulação entre os vários setores do governo e da sociedade civil em um esforço para garantir o direto à educação. Ela ressaltou o seguinte: "Nós não podemos falar de números, temos que falar de crianças com nome e endereço.”
A performance da professora Amanda Gurgel, da Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Norte, anônima a nível nacional até quando do seu pronunciamento às autoridades que pode ser considerado um agente representativo de uma classe que para um país que almeja o status de nação de primeiro mundo, é desconsiderada e relegada às agruras do descaso e à vergonha de considerar alfabetizadas crianças que não têm a mínima condição de interpretar um texto lido.
O livro "O Cidadão de Papel", do jornalista Gilberto Dimenstein, produzido nos primeiros anos da década de 1990, nos apresentou esse país de contrastes tão grandes. Uma das maiores economias do planeta e, ao mesmo tempo, um dos lugares mais socialmente injustos para se morar.
           Dimenstein procurou focar sobre as questões sociais e seu impacto na vida dos pequenos brasileiros, das crianças. Partiu da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos mostra, ao longo das páginas de seu livro, como estamos distantes da aplicação prática de elementos básicos e fundamentais para que possamos conceder a nossas crianças e jovens um mínimo de dignidade.
            Se a criança está na rua, engraxando sapatos, vendendo balas nos semáforos das grandes metrópoles, se prostituindo nas esquinas mais movimentadas dos grandes centros urbanos, catando restos em lixões, cometendo pequenos furtos ou cheirando cola, ela definitivamente está muito longe da escola.
          "O Cidadão de Papel" nos mostra como, apesar da Declaração Universal dos Direitos Humanos e de todos os modernos códigos legais que regem o nosso país (da Constituição ao Código Civil, do Código Penal ao Código do Consumidor, O Estatuto da Criança e do Adolescente e passando por tantos outros), o Brasil não conseguiu vencer a chaga da desigualdade social e da péssima distribuição de renda.
           É papel da escola formar cidadãos, dar ao alunos os ensinamentos de que eles necessitam para viver e trabalhar neste mundo de constantes evoluções, bem como orientá-los para a vida. Isso só acontece, se a escola definir como meta, o trabalho crítico com os conteúdos a ser estudados pelos educandos.
             O conhecimento é quem assegura, ao indivíduo, o respeito a sua maneira de pensar e agir, haja vista ser, no momento, o que consideramos de maior importância na elevação social, no atual momento de grandes e significativas mudanças globais. Não um conhecimento compartilhado, mas um saber amplo, duradouro, crítico e emancipatório. E isso só é possível, se a escola abrir as portas para uma educação cidadã, que respeite as experiências vividas por seus alunos.
             É preciso repensar o papel da escola e do professor na construção do saber crítico do aluno. Somente através de uma educação que valorize o saber crítico é que teremos mais cidadãos preparados para a vida, para enfrentar os desafios que são impostos cotidianamente por uma sociedade globalizada e excludente.
             Escolas e professores, não podem “fechar os olhos” para a exclusão social que tanto tem contribuído para as mazelas sociais. O papel de ambos, escola e professor, pode contribuir significativamente para que tenhamos uma sociedade mais justa, um mundo mais humano e uma vida mais feliz.
 Nunca é demais lembrar que, há 40 anos, a renda per capita da Coreia do Sul era a metade da do Brasil, e as taxas de analfabetismo de ambos eram próximas dos 35%. Hoje, o país asiático, com 40 milhões de habitantes, exporta o dobro do Brasil e, em sua maior parte, produtos de alta densidade tecnológica. Já a renda por habitante é mais de duas vezes a brasileira. O analfabetismo foi praticamente zerado, enquanto aqui ainda se avizinha de 13%. A revolução educacional que o país vem empreendendo, sem tréguas, desde a década de 60, começou pela base da pirâmide, isto é, o ensino fundamental. A valorização e a atualização permanente dos professores, desde o ensino básico, constituíram uma das principais alavancas do processo de reforma educacional.     
          Na Coreia do Sul, até o professor da área de educação infantil deve ter mestrado completo e, como os demais, trabalha em regime de dedicação exclusiva. No Brasil, 213 mil docentes da 5ª à 8ª série da rede pública não têm licenciatura (graduação) e milhares de outros, da 1a à 4a série, não concluíram sequer o ensino médio. E, para sobreviver, muitos professores muitas vezes precisam acumular dois ou três empregos em diferentes escolas, o que inviabiliza a hipótese de uma reciclagem. Assim, mais de 80% dos sul-coreanos que terminam o ensino médio vão para a universidade, enquanto no Brasil esse índice é inferior a 20%.
A conquista da cidadania é um processo contínuo de luta, de busca pelo que se almeja e esta busca deve fazer parte da educação contemporânea. Para tanto, a escola deve estar sedimentada sobre a cidadania, educando para que seus alunos  exerçam o direito de serem cidadãos
Por tanto, uma educação que se alimenta na rica experiência da educação popular, mas reinventada constantemente para adaptá-la aos novos desafios oferecidos pelos recursos facilitados pela transposição didática enquanto mecanismo de identificação da realidade de cada escola, e essa por meio do contexto da comunidade em que está inserida, e assim promova uma contextualização dos conteúdos programáticos que encontre eco na realidade de cada educando.
O Brasil, no que tange a projetos educacionais está bem servido, mas a questão a ser considerada é: quando vão sair do papel?



Lista dos países pela média de pontuação do Pisa

         A análise dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), levando em conta uma margem de erro de 5%, revela que um grupo de 12 países forma a elite do ensino mundial, com pontuação que vai de
507 a 546:

Finlândia
Canadá
Nova Zelândia
Austrália
Irlanda
Coréia do Sul
Reino Unido
Japão
Suécia
Áustria
Bélgica
Islândia

Cinco nações, com resultados estatisticamente equivalentes à média geral dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que corresponde a 500, estão em um segundo grupo de desempenho. Nesse grupo a média vai de 494 a 505:

Noruega
França
Estados Unidos
Dinamarca
Suíça

Em um terceiro grupo estão 14 países com resultados que vão de 396 a 493, abaixo da média da OCDE. O Brasil é o último colocado:

Espanha
República Checa
Itália
Alemanha
Liechtenstein
Hungria
Polônia
Grécia
Portugal
Rússia
Letônia
Luxemburgo
México
Brasil                              

Por Mário César Cajé
           Pedagogo